Na Antiguidade, os fenícios habitavam as regiões ao longo do litoral dos atuais Líbano, Síria e norte de Israel. A principal atividade desenvolvida por eles era o comércio marítimo, e eram especialistas nisso! Pensando em facilitar a comunicação para melhorar as relações comerciais,
desenvolveram um sistema de escrita não-pictório (diferente dos hieróglifos egípcios) e capaz de registrar outros idiomas tipologicamente diferentes (que a escrita cuneiforme não possibilitava). Esse alfabeto trazia duas novidades que garantiriam seu sucesso: (1) os símbolos eram mais ou menos aleatórios, ao contrário dos hieróglifos egípcios que eram desenhos das palavras a que correspondiam – a palavra “pássaro”, por exemplo, era escrita através do desenho de um pássaro; (2) os caracteres representavam sons, e não palavras, conceitos e ideias, o que possibilitava que povos que tinham concepções diferentes pudessem se expressar de maneira diversa através dos mesmos caracteres.
Esse alfabeto (aleph beth) possuía 22 caracteres, todos com sons consonantais, ou seja, para escrever “bebe” seria grafado “BB”, e o leitor saberia através do contexto se a palavra escrita era “bebe”, “baba” ou “bobo”, por exemplo.
Acredita-se que no século I a.C algumas cidades gregas tenham adotado a forma de escrita fenícia, adaptando e incluindo caracteres – como as vogais. Pelo intermédio dos etruscos, o alfabeto, agora grego, chegou às mãos dos romanos, que o transformaram na escrita latina no século VIII a.C, que foi difundida por toda a Europa Ocidental no período imperial.
Atualmente, o alfabeto latino é utilizado para grafar a grande maioria das línguas (latinas e germânicas). O alfabeto cirílico, utilizado na Rússia, Ucrânia, Mongólia e outros países eslavos, pode ser considerado uma versão atual do alfabeto grego antigo. Fora essas línguas, podemos citar algumas Orientais que não são grafadas com caracteres latinos, mas possuem seu próprio alfabeto, como o árabe, o indiano, o chinês, japonês e o coreano.
“A escrita cuneiforme dos sumérios serviu a muitas línguas diferentes, chegando, através dos cananeus aos fenícios. Por causa de suas peculiaridades, a escrita cuneiforme criava muitas dificuldades para registrar outros idiomas tipologicamente diferentes. Na tentativa de registrar seu idioma com maior propriedade, os fenícios converteram o alfabeto pictório usado por seus ancestrais cananeus em alfabeto não pictório, o que acabou levando a uma escrita mais simples e mais eficiente que a cuneiforme da Mesopotâmia e as hieroglífica, hierática e demótica do Egito. O alfabeto fenício compunha-se de vinte e duas consoantes e permitia a escrita fonética, que dada a sua eficácia, acabou espalhando-se por toda a região (entre 1050 e 850 a. C.). No século I a.C., os gregos transformaram algumas consoantes fenícias em vogais, acrescentaram novos caracteres a esse alfabeto e passaram a escrever da esquerda para a direita. O alfabeto fenício modificado pelos gregos foi adotado pelos romanos e chegou até nós.”
DURÃO, Adja Balbino de Amorim Barbieri. Lembremos das velhas obras lexicográficas para redimensionar o papel da lexicografia e dos novos dicionários. Cadernos de Tradução, v.1, n.27. UFSC, 2011. Disponível em <https://periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/view/2175-7968.2011v1n27p11/19787>
Para saber mais sobre os fenícios, acesse:
Saiba tudo sobre os fenícios e sua importância para o comércio – Aventuras na História